Stand By (solo)

A estação de metrô estava bastante cheia aquele naquele início de semana, Chouko pensou.

Talvez tenha algo a ver com aquela mostra que eles iriam fazer na Tecno 7...Ou, mais provavelmente, o frenesi de fim de ano estava chegando. E com ele, os vagões de metrô se preenchiam até o limites que desafiavam as logicas da física, carregando cada vez mais pessoas envolvidas no piego processo de estocar produtos para as tão esperadas vendas de Natal. Ela olhou na direção de seus bolsos e espiou a tela de seu mp3 ainda dentro dele, clicando no botão de 'forward' até que um blues urbano invadisse seus ouvidos e transformasse o barulho do trânsito em um tec-tec suave vindo de algum lugar indefinido no plano de fundo.

Satisfeita com o efeito, ela apertou o botão do menu. Os dígitos 19:32 surgiram em um fraco led azulado... Ela engoliu em seco. Um pequeno cubo de gelo entalando em algum lugar em sua nuca... Ela moveu a mão até lá e pressionou a palma contra a pele, parando o arrepio.

Porque era sempre assim? Droga, certo... Não era como se ela estivesse indo para um passeio no parque. Ela tinha seus motivos para se preocupar... Todos os motivos. Mas era apenas ela se manter focada ao plano... Não dar muito na vista, se manter escondida e usar rotas que ela já conhecia. Se ela ainda assim falhasse, isso não seria fatal... Ao menos não para ela.

... Mas para ele, talvez.

Ela empurrou o pensamento para longe.

Há um limite para o que um ser humano é capaz de fazer...!

...Mas não finja que isso não te corrói por dentro.

...
Eu sei. ela respondeu.
...
*suspiro*

Chou examinou mais uma lata de sardinha disparando pelo túnel para acalmar os nervos.

Ela puxou o celular do bolso e deslizou profusamente o dedo pela tela até conectar-se ao wifi da estação, movendo-se até achar o banco costumeiro próximo ao café e sentou-se. Pelo menos ali o sinal conseguia ser passável, dada a quantidade absurda de objetos e pessoas bloqueando a rede por todos os lados. Ela abriu o aplicativo do Naniwa Maps e procurou pelo nome que havia sido pinado ali na noite anterior.

"Kotodama, Hiro"

Apareceu indicado em um post dentro do cinema em Minami.
Ela pesquisou o nome através de redes sociais, e logo uma série de fotos começaram a aparecer. Ela entrecruzou as informações até isolar um único indivíduo. Adulto, 34 anos, residente em Naniwa. Trabalha numa pequena empresa de manufaturados em Kyon chamada Ukobaki. Em um segundo toda a sua árvore genealógica estava espalhada à frente dela. Filhos. Esposa. Ensino médio incompleto. Uma vida relativamente calma, apesar de aparentemente ter pouco dinheiro. Um gosto pela indústria cinematográfica, visto a quantidade de comentários em seus posts à respeito. Também haviam comentários sobre ciência... Música...

Uma pessoa bastante inteligente que exemplificava todos os motivos pelo qual um currículo não significava grande coisa neste mundo, mas que não tinha tido sua porção de sorte e inspiração para dar um salto espetacular na vida.

... Impressionante a quantidade de coisas que as pessoas disponibilizam sem pensar duas vezes pela rede de informações mundial.

Ela memorizou a localização exata do cinema mais uma vez e traçou mentalmente uma rota da estação de metrô mais próxima até o local. Ela fechou os olhos e tentou se recordar do trajeto mentalmente. Esquerda... Direita... Direita de novo... Uma vez que ela se certificou que sabia exatamente como se guiar nas redondezas e que não iria dar de cara com nenhum beco em suas rotas de fuga viáveis ela fechou o celular profusamente colorido com um estalido.



O mundo desacelerou por um instante.



As pessoas ao redor pareciam andar em câmera lenta...

Suas silhuetas se tornavam difusas e escureciam, até que por fim desapareciam como névoa.

Hideyoshi se levantou de sua cadeira, atravessando alguns dos transeuntes como se eles fossem fantasmas. O efeito fez com que arrepios lhe subissem pelo corpo todo, como se ela tivesse cruzado com uma massa de ar gelado, mas ao mesmo tempo a pôs em alerta.

A garota piscou, observando os arredores, enquanto lentamente cada um dos usuários da estação desapareciam silenciosamente em finos fiapos de fumaça negros, e o único barulho ecoando era o de seus passos contra o piso pelo longo corredor. Alguma coisa soava abafada contudo... Oh certo. Os fones. Eles não estavam funcionando mesmo. Ela tirou-os e subitamente o som dos seus passos se tornaram mais claros.

Ela caminhou até uma roleta próxima retirando um cartão do bolso.
O número 'X' refletiu brevemente a superfície espelhada quando ela passou-o para autorizar sua entrada na plataforma de embarque. Uma pequena luz verde se acendeu com um bipe, destravando a passagem.



Quase como se esperasse a sua chegada,
Um longo e metálico trem azul surgiu freando furiosamente para admitir sua entrada.


/.Chou Deixou o tópico./
/.Tópico Encerrado./